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domingo, 8 de julho de 2012

Voz de fora


(Pintura de Willem Haenraets)

Voz de fora
(Manuel Bandeira)

Como da copa verde uma folha caída
treme e deriva à flor do arroio fugidio,
deixa-te assim também derivar pela vida,
que é como um largo, ondeante e misterioso rio...

Até que te surpreenda a carne dolorida
aquela sensação final de eterno frio,
abre-te à luz do sol que à alegria convida,
e enche-te de canções, ó coração vazio!

A asa do vento esflora as camélias e as rosas.
Toda a paisagem canta. E das moitas cheirosas
O aroma dos mirtais sobe nos céus escampos.

Vai beber o pleno ar... E enquanto lá repousas,
esquece as mágoas vás na poesia dos campos
e deixa transfundir-te, alma, na alma das cousas.

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